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sábado, 26 de março de 2011

Madrugada em Claro - Efeitos Colaterais da Quimioterapia

Quando os magos visitaram o menino Jesus, ofereceram a ele incenso, ouro e mirra. Incenso porque ele tinha a “essência” de Deus, ouro porque ele era rei, e mirra porque ele era homem mortal. Voltando para casa depois de uma das 33 sessões de radioterapia a que fui submetido,  numa das travessas da Rua Voluntários da Pátria, no bairro de Santana, na capital paulista, em meio aos canteiros de flores pude observar um pé de mirra. Estranhei o fato daquela erva vir a nascer ali, pois não fazia parte do grupo das plantas daquele canteiro. Arranquei uma das folhas e levei próximo ao nariz para poder sentir o cheiro, para poder ter certeza de não estar confundindo a planta que eu vira naquele canteiro. Era mirra mesmo. Seria capaz de reconhecer as suas folhas a metros de distância, mesmo sem sentir o seu forte odor. Os egípcios empregavam a mirra no culto ao deus Sol, usada como ingrediente na mumificação, uma vez que suas qualidades embalsamadoras já eram conhecidas. Até o século XV, era usada como incenso em funerais e cremações. É também utilizada em algumas celebrações religiosas como a missa. A sua fragrância também pode ser utilizada em incensos para dar um leve aroma de terra ou como aditivo para o vinho. Peguei um galho da planta e coloquei numa garrafa de água mineral que carregava na mochila. Abri a parte de cima da garrafa de plástico com uma tesourinha chinesa (aquelas pequenininhas que dobram e) que eu sempre tenho comigo no meu chaveiro, para não abafá-la, e depois de acondicionar tudo numa sacolinha de supermercado decidi trazê-la na mão dentro do metrô. Nem me preocupei se o cheiro forte do galho recém cortado iria incomodar as pessoas ao meu redor durante o meu trajeto num transporte público.
        Na primeira noite do dia em que eu faço a quimioterapia, tenho dificuldades para dormir. Sinto insônia... Nas poucas vezes em que eu pego no sono, são minutos rápidos de cochilo. Desperto logo em seguida sem conseguir dormir novamente. Durante o tratamento não tive vômitos, mas passei a última semana toda com o estômago embrulhado. Uma diarréia estranha, seca, meio que pastosa... De ontem para hoje fui umas cinqüenta vezes ao banheiro, e não sai muita coisa. Também por causa do mal estar do estômago pouco tenho me alimentado. Percebi que sorvete e Coca-cola aliviam o mal estar. Um calor me invade o corpo e passeia pela pele. Um calor estranho que vem e vai em ciclos e picos de elevação repentina. Não tem ventilador e nem hidratante capazes de resolver a situação. Pelo menos amenizam na hora. Não posso tomar sol.
        A radioterapia causou em mim uma cistite aguda, o que me faz sentir fortes dores na hora de urinar. Meu médico me disse que com o tempo isso passa, mas por enquanto ainda me incomoda muito. Solicitei à minha oncologista um exame de urina I e um exame de urocultura. Não há infecção. Menos mal.
        Nesta semana terminei as oito sessões de quimioterapia e as trinta e três de radioterapia. Retorno à minha médica daqui há dez dias. Imagino que ela agora vai me encaminhar para o urologista, e esse por sua vez deve me solicitar novos exames. Como ela mesma frisou, o meu tratamento é um tratamento “multidisciplinar”, isto é, acompanhado por vários especialistas.
          Chegando em casa, plantei a mirra num vaso e a coloquei no peitoril da janela da cozinha. Ela secou. Pareceu morrer. Mas agora já posso ver vários brotos renascendo, lutando pela vida. E eu acredito que ela vai se encher de folhas verdinhas, não como prenúncio de morte, mas como novidade de vida. É é a essa esperança que eu me agarro sempre.



Um comentário:

Anônimo disse...

Querido amigo Marcos, você é um vencedor, um batalhador como poucos, és para mim como um irmão.
Muito obrigado por sua força de vontade, ela faz com que possamos gozar da sua inestimável presença em nossa vida. E saiba, para aqueles que te conhecem, como é o meu caso, é evidente que você é como a "Mirra", e renascerá a cada dia para compartilhar conosco sua maravilhosa existência.
Jesus te Ama! E nós, os seus amigos, também!