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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Encantos e Desencantos



A cidade ficou apagada, suas ruas molhadas depois da chuva... E agora não resta mais nada do que eu já fui... Como um velho sentado na rua pedindo: "-Uma ajuda irmão!" E o menino imitando o que viu na televisão. E nos bares, os males... os cálices comemorando vitórias.

E o ano de 2009 passou... Passou pelos planos não realizados... Pelas promessas não cumpridas. Pelo descaso das pessoas que pensamos amar. Pelos amigos que nos esconderam a mão. Pelo sonho roubado de uma noite mal dormida que prometia ser mágica e que não passou de um pesadelo.

E eu estranhei a mim mesmo. Eu me desconheci em meus caminhos. E fiz coisas que surpreenderam a mim próprio, como se eu fosse um outro... E me aborreci com a rotina desses dias tão iguais observando a dança infinita dos ponteiros do relógio. Frações de segundo tornaram-se fragmentos de eternidade. Eu me perdi e não me achei. Dormi e não sonhei. E adentrei um ano novo cheio de velhos hábitos como se não fosse novo. Como se fosse o vento a varrer lembranças esquecidas numa caixa de sapatos, junto com fotografias e cartões que jamais tornamos a ler.

E o diário do dia a dia nunca mais foi retomado e escrito. Vaguei por lugares estranhos e desconhecidos sem carregar a imagem de mim mesmo porque o espelho que eu tinha foi quebrado. Os estilhaços me convenceram de que certas situações na vida são irrevogáveis e irreversíveis... E de que não adianta nada chorar, porque o choro na verdade sufoca ao invés de aliviar a dor.

Mas o novo ano nasceu como um menino que procura aprender aquilo que ainda não sabe. Analfabeto dos desejos proibidos, que ninguém leu e nem mesmo ousou escrever porque tinha gosto e cheiro de pecado.

A aranha continua tecendo a sua teia, na esperança de capturar uma presa que a possa alimentar. A vida dela depende da morte de um outro ser, tão significante quanto ela. Na sobrevivência não há remorso.

"Eu penso, logo eu existo."

Vejo e não consigo observar.

Falo e ninguém me escuta.

Canto e ninguém me ouve.

Então me aquieto no meu canto, no meu canto que é triste e ao mesmo tempo hilário. A comédia humana não tem nada de divina diria Dante Aliguieri nos dias de hoje.

A história se repete dia após dia, e nem sequer damos atenção a ela.

A vida.
Só ela tem valor.
O resto é apenas resto.

3 comentários:

Unknown disse...

Que texto maravilhoso. Não sei de todas suas virtudes, mas escrever sem dúvida é uma delas. Você tem dons, querido. E tem muita VIDA dentro de você. Espero te ler mais mais.


Um abraço,

Nayara

Unknown disse...

Que texto maravilhoso. Não sei de todas suas virtudes, mas escrever sem dúvida é uma delas. Você tem dons, querido. E tem muita VIDA dentro de você. Espero te ler mais.


Um abraço,

Nayara

Anônimo disse...

Olá, Marcos. Peço, por gentileza, o nome e intérprete da música citada no texto. Caso este comentário não tenha "link" direto com o texto, é aquela música: "A cidade ficou apagada e as ruas molhadas". A referida musica fez parte da minha infância, mas não consigo as informações da mesma. Grato desde já.
Lauro
lcamargojr@bol.com.br