A cidade ficou apagada, suas ruas molhadas depois da chuva... E agora não resta mais nada do que eu já fui... Como um velho sentado na rua pedindo: "-Uma ajuda irmão!" E o menino imitando o que viu na televisão. E nos bares, os males... os cálices comemorando vitórias.
E o ano de 2009 passou... Passou pelos planos não realizados... Pelas promessas não cumpridas. Pelo descaso das pessoas que pensamos amar. Pelos amigos que nos esconderam a mão. Pelo sonho roubado de uma noite mal dormida que prometia ser mágica e que não passou de um pesadelo.
E eu estranhei a mim mesmo. Eu me desconheci em meus caminhos. E fiz coisas que surpreenderam a mim próprio, como se eu fosse um outro... E me aborreci com a rotina desses dias tão iguais observando a dança infinita dos ponteiros do relógio. Frações de segundo tornaram-se fragmentos de eternidade. Eu me perdi e não me achei. Dormi e não sonhei. E adentrei um ano novo cheio de velhos hábitos como se não fosse novo. Como se fosse o vento a varrer lembranças esquecidas numa caixa de sapatos, junto com fotografias e cartões que jamais tornamos a ler.
E o diário do dia a dia nunca mais foi retomado e escrito. Vaguei por lugares estranhos e desconhecidos sem carregar a imagem de mim mesmo porque o espelho que eu tinha foi quebrado. Os estilhaços me convenceram de que certas situações na vida são irrevogáveis e irreversíveis... E de que não adianta nada chorar, porque o choro na verdade sufoca ao invés de aliviar a dor.
Mas o novo ano nasceu como um menino que procura aprender aquilo que ainda não sabe. Analfabeto dos desejos proibidos, que ninguém leu e nem mesmo ousou escrever porque tinha gosto e cheiro de pecado.
A aranha continua tecendo a sua teia, na esperança de capturar uma presa que a possa alimentar. A vida dela depende da morte de um outro ser, tão significante quanto ela. Na sobrevivência não há remorso.
"Eu penso, logo eu existo."
Vejo e não consigo observar.
Falo e ninguém me escuta.
Canto e ninguém me ouve.
Então me aquieto no meu canto, no meu canto que é triste e ao mesmo tempo hilário. A comédia humana não tem nada de divina diria Dante Aliguieri nos dias de hoje.
A história se repete dia após dia, e nem sequer damos atenção a ela.
A vida.
Só ela tem valor.
O resto é apenas resto.
3 comentários:
Que texto maravilhoso. Não sei de todas suas virtudes, mas escrever sem dúvida é uma delas. Você tem dons, querido. E tem muita VIDA dentro de você. Espero te ler mais mais.
Um abraço,
Nayara
Que texto maravilhoso. Não sei de todas suas virtudes, mas escrever sem dúvida é uma delas. Você tem dons, querido. E tem muita VIDA dentro de você. Espero te ler mais.
Um abraço,
Nayara
Olá, Marcos. Peço, por gentileza, o nome e intérprete da música citada no texto. Caso este comentário não tenha "link" direto com o texto, é aquela música: "A cidade ficou apagada e as ruas molhadas". A referida musica fez parte da minha infância, mas não consigo as informações da mesma. Grato desde já.
Lauro
lcamargojr@bol.com.br
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