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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma História de Criança



.Sempre adorei o Natal, essa época mágica do ano em que a família toda se reúne para celebrar a vida e o nascimento de um novo ano que se anuncia. Os enfeites, as luzes, as cores, os presentes... Todo esse encanto alimenta os sonhos de qualquer criança e também dos adultos.

Quando eu era criança, gostava de ajudar minha irmã mais velha a montar a árvore de Natal. Filho de imigrante, era uma tradição que a nossa família mantinha viva todos os anos. Naquela época as bolinhas ainda eram de vidro, e eu na minha inocência, não entendia porque minha irmã não me deixava pendurá-las. Eu achava que ela era ruim e que não gostava de mim. Hoje eu entendo bem o por quê: É porque elas quebravam. E justamente por gostar muito de mim é que ela não me permitia fazê-lo, para que eu não corresse o risco de me ferir com algum caco de vidro, caso uma das bolinhas viesse a cair no chão e se quebrar.

Família é assim mesmo. Quando existe amor verdadeiro, faz de tudo para que a gente não se machuque ao longo da jornada da vida. Mas infelizmente a vida pensa de maneira diferente, e muitas vezes acabamos nos ferindo por um motivo ou outro, mesmo sem saber por que. Faz parte da aprendizagem.

Nunca escrevi uma carta para o Papai Noel, nunca me disseram que as crianças deveriam escrever para o bom velhinho escolhendo o presente que desejavam ganhar. Ainda bem, pois se eu tivesse feito isso eu iria machucar muito os meus pais, muito mais do que mil estilhaços de vidro; pois a nossa situação era difícil, e nunca sobrava dinheiro para os presentes.

Certa vez indaguei à minha irmã por que Papai Noel não me trazia presentes no Natal, no que ela me respondeu que era porque na nossa casa não havia chaminé. E como Papai Noel entrava nas casas pela chaminé, não tinha como entrar na nossa casa. E eu aceitei aquelas desculpas como razoáveis, sem jamais perder o encanto do Natal ou guardar mágoa do Papai Noel por ele nunca ter me deixado nenhum presente.

Eu cresci e me tornei um adulto. Com o tempo fui deixando as coisas de criança para trás, na infância perdida... Foram os melhores anos de minha vida. Hoje eu gostaria de poder resgatar de volta todos aqueles sonhos, e tornar o ver o mundo outra vez através dos olhos de uma criança; pois apesar do pouco entendimento elas conseguem encarar com alegria todas as dificuldades sem jamais permitir que a esperança seja arrancada de dentro de seus corações. Elas sabem muito mais do que nós, por isso é que são felizes!

domingo, 26 de outubro de 2008

Um dia de sol sem brilho

Eu saí da consulta com os olhos cheios de lágrimas, e o coração apertado por causa de mais uma batalha perdida. A médica me negou o atestado de condição laborativa, dizendo que isso é ilegal perante o Conselho Federal de Medicina. A empresa onde eu trabalho exige tal atestado, erstou prestes a perder o meu benefício e impossibilitado de trabalhar e agora eu nem sei o que fazer... O ultrason já estava comigo há mais de uma semana. Geralmente eu abro todos os meus exames, mas dessa vez eu optei por não ver o resultado. Parece que alguma coisa no meu coração já dizia que novas tempestades estariam aguardando por mim, e que notícias não muito boas estavam para surgir. O tumor aparentemente voltou, e pelo que tudo indica tem o dobro do tamanho... Senti-me totalmente desolado com a notícia, sem rumo e sem direção... Senti o choque de um novo impacto. Eu não esperava por isso, não esperava mesmo... Vai demorar um tempo ainda até que eu consiga forças suficientes para poder me recompor...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Enfim só (Crônica)

Eu tinha pouco mais de vinte anos quando fiz minha primeira viagem ao exterior, só eu e a minha mochila. Ao aterrissar em Londres, aluguei um quarto na casa de uma inglesa meio pirada, dei um telefonema para tranquilizar a família e fui deitar, nocauteada que estava pelo fuso horário. Fechei os olhos na escuridão daquele quarto desconhecido e pensei com meus botões: estou completamente sozinha.
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Naquela noite eu não dormi direito, mas acordei disposta a me enfrentar. Viajei por diversos países, conheci pessoas em trens, me hospedei em casa de gente que conhecia há cinco minutos e absorvi hábitos e idéias que nunca haviam me ocorrido. Voltei com dúzias de fotos, um jeans que foi direto para o lixo, sem uma pila no bolso, e tão sozinha como quando havia partido. Mas a solidão, agora, não puxava mais meus pés na hora de dormir.
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Eu não era nenhuma adolescente quando entrei naquele avião, mas lidava com a solidão como se ainda tivesse 14 anos. Eu queria sim, conhecer a Europa, mas no fundo o que eu queria mesmo era testar os meus limites, meus medos, dirigir o foco de luz para dentro.
E eis que iluminei uma solidão colorida e corajosa, que nada tinha de bicho-papão, e que me acompanha até hoje. Se ela quiser me deixar, eu não deixo.
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É claro que existe uma grande diferença entre passar um tempo sozinha em Paris e passar todos os sábados sozinha num quarto na Riachuelo. Viver sem família, sem amigos, sem amor, é um porém que cala fundo. Mas a solidão pode também ocupar bastante o espaço.
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A solidão é valiosa quando se quer escrever, seja uma carta, um diário, uma receita, ou mesmo aquele poema que você morre de vergonha de mandar para o concurso e é essencial para ler. Um livro quase sempre é melhor companhia do que uma conversa jogada fora num bar.
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A solidão é ótima num cinema. Não fala durante a projeção, não faz barulho com o papel de bala, não reclama do ar condicionado e nem protesta se você escolhe um filme canadense.
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A solidão é perfeita na praia. Não pede para passar bronzeador nas costas, fica hora boiando com você no mar e sai de fininho quando um sósia do Rômulo Arantes se aproxima para pedir informação.
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A solidão é parceira em caminhadas, não fica fazendo perguntas quando você mal tem fôlego para respirar.
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É silenciosa quando você está assistindo televisão, não espirra bem na hora em que o mocinho diz o nome do assassino.
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É uma mão na roda para fazer compras. Não faz você entrar em lojas onde a camiseta básica custa duas vezes a prestação do seu apartamento.
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Fica quietíssima quando você está dirigindo. Não troca a estação do rádio sem pedir licença e nem faz comentários sobre a velocidade do carro.
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Gente, a solidão é um achado!
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Perdeu quem apostou que eu sou uma eremita e vivo no meio do mato. Sou urbana até a raiz dos cabelos, e se tivesse de escolher entre viver em Tókio ou numa ilha deserta, iria para a Terra do Sol Nascente feliz da vida. Mas abdico de solidões sociais, como participar de grupos onde ninguém ouve ninguém, e discutir assuntos que não são da minha conta. Estar com alguém só para não estar sozinho é solidão mal administrada. Muitas pessoas que vivem em formigueiros humanos como São Paulo se sentem muito mais solitárias do que Almir Klink em suas excursões glaciais. Solidão não se cura com o amor dos outros. Se cura com amor próprio.
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Quanto mais íntimos de nós mesmos, menos críticos nos tornaremos em relção às outras pessoas. A solidão diluji a ironia e os ciúmes, e faz com que a gente reflita mais sobre as nossas pró prias ações, em vez de se dedicar religiosamente à vida alheia.
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Nunca voltei a viajar sozinha, mas se precisasse, embarcaria com a mesma coragem, só que levando menos ansiedade, menos carência, menos perguntas, e dois jeans a mais.
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MEDEIROS, MARTHA. Geração Bivolt. Porto Alegre: Artes e Oficina. (Pag 19 à 22)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mais um prêmio

Também se eu não ganhasse iria ficar feio. Eram 500 Ipods, e eu fiquei em 29º lugar. O primeiro colocado levou um Pálio. Eu sinto que qualquer dia desses ainda vou ganhar um carro...